terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Futuro da Coreia do Norte é tão obscuro quanto o novo líder


Do filho caçula, escolhido como sucessor de Kim Jong-Il, não sabe nem a idade


A dificuldade de consenso em torno de Kim Jong-un se deve, principalmente, à falta de informações mais básicas a seu respeito. "Se nem sua idade sabemos ao certo, quanto mais o grau de preparação que ele tem para governar. Ele pode ou não estar intimamente envolvido nas questões políticas do país, tanto ao lado dos apoiadores do pai, quanto dos países amigos. É tudo pura especulação", afirma Masieiro. "Não temos qualquer conhecimento sobre os pensamentos de Kim Jong-un. Mas, aparentemente, ele não está preparado para assumir o poder: além de não ter carisma, parece não ter liderança política", completa Altemani. Por isso, o mais provável é que o jovem - que, até onde se sabe, tem menos de 30 anos - precise do respaldo de algum político para conseguir governar. Um dos mais cotados para ser seu "conselheiro" é Jang Song-Thaek, cunhado de Kim Jong-Il e vice-presidente da poderosa Comissão de Defesa Nacional. "Ele já vem coordenando a política norte-coreana através dos laços de amizade que mantinha com Kim Jong-Il. No entanto, o Exército também deve ter grande influência no mandato do sucessor", ressalva Masieiro.

Confira a árvore genealógica da família Kim:
Getty Images
Criança desnutrida recebe ajuda humanitária na Coreia do Norte
Criança desnutrida recebe ajuda humanitária
Instabilidade - Com experiência ou não, a tarefa que Kim Jong-un tem pela frente não é nada fácil. A Coreia do Norte enfrenta problemas de fome contínua e crise econômica desde o início na década de 1990, quando a China e a União Soviética estabeleceram relações com a Coreia do Sul e assumiram o compromisso de cessar o apoio a Pyongyang. "O regime norte-coreano não respondeu com transformações, mas isolamento. E usou o seu secreto programa nuclear como moeda de chantagem e negociação", lembra Henrique Altemani. E depois da Guerra Fria, o quadro só piorou, com a perda de todo o mercado. "Até a década de 1970, a economia do país era mais desenvolvida do que a da Coreia do Sul", salienta o professor.
Desde aquela época, dois fatores atrapalham o avanço da Coreia do Norte. Um deles é a falta de vontade do próprio regime em flexibilizar o sistema politico interno. Em 2002, um passo foi dado para a abertura econômica: a Coreia do Norte se mostrou disposta a adaptar seu sistema nos moldes das reformas chinesas de modernização. Porém, o sistema político continuou intacto. Com a morte de Kim Jong-Il, esse quadro pode mudar, mas vai depender das disputas políticas pelo poder. "A família do ditador, o Partido Trabalhista ou as Forças Armadas não deram qualquer sinalização de que pretendem mudar algo", aponta Altemani. Outro entrave é a ausência de vontade política internacional em cooperar com o país. "Com a crise financeira internacional, essa atitude dos países estrangeiros deve permanecer. O alto custo que envolve essa ajuda não lhes interessa", avalia o especialista.
Programa nuclear - A cooperação econômica internacional com a Coreia do Norte está quase sempre condicionada à promessa de abandono das relações nucleares, em troca da importação de grãos, por exemplo. Mas, desde que Lee Myung-Bak assumiu a Presidência do Sul, em 2008,as relações entre as Coreias estão cada vez mais tensas. Neste ano, Pyongyang se mostrou disposta a retomar o diálogo em troca de ajuda externa, mas agora, com a troca de poder no país, abriram-se novas incertezas sobre a "desnuclearização" do regime. "O único trunfo politico da Coreia do Norte é sua possível 'ameaça nuclear'. Se o programa for descontinuado, a Coreia do Norte perde uma grande ferramenta de negociação. O interesse continuará em transformar ameaças em cooperação", explica Altemani.
"É uma poderosa ferramenta de barganha, garantida pelo sigilo do programa nuclear do país e usada para acertos de contas históricos", acrescenta Gilberto Masiero, destacando que, mesmo que o novo líder tente chegar a uma solução, as negociações de paz das quais participam seis países - Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, China, Estados Unidos e Rússia - dificilmente chegarão a um acordo rapidamente. "Esta é uma questão que deve ser resolvida internacionalmente e depende de interesses muito diversos. Por mais que a Coreia do Norte dê sinais de que quer dialogar, qualquer decisão que beneficie EUA e Coreia do Sul complicaria suas relações com China e Rússia. Quase 60 anos de tentativa de acordo não serão resolvidos em 5", enfatiza.

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